A Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira (Unilab) recebeu nesta quarta-feira (30) a culminância do Projeto de Fortalecimento da Rede de Cozinhas Comunitárias do Grande Bom Jardim (RCCGBJ). A atividade foi realizada pelo Centro de Defesa da Vida Herbert de Souza, proponente do projeto, em parceria com a RCCGBJ e o Grupo Diálogos de Extensão e Pesquisas (Diálogos Urbanos/Unilab), na Unidade Acadêmica dos Palmares, em Acarape.
A noite foi marcada por uma ambientação cultural, artística e científica montada com os mapas produzidos pela pesquisa “Mapeamento Participativo do Enfrentamento à Fome no Grande Bom Jardim”, promovida no ano passado. Na oportunidade de quarta, aconteceu ainda mostra do trabalho do desenhista e designer gráfico André Dias, que retrata situações do cotidiano urbano em ilustrações e sketch, e exposição da produção artesanal do Grupo Produtivo Criart.
Na partilha de experiências, integrantes das cozinhas comunitárias deram depoimentos apontando a importância da Rede em meio aos desafios para enfrentar a fome e lutar por políticas públicas em um contexto de vulnerabilidades. Entre os presentes, fizeram pronunciamentos a Cozinha AMBJ Unidas, Cozinha Solidária Ana Facó, Cozinha Criativa Criart, Associação de Pessoas com Deficiência Bom Viver e Cozinha Humanitária Mãe África. Representantes do Instituto Maria do Carmo, Centro União Beneficente dos Moradores da Granja Portugal e Irmão Sol Irmã Lua também compartilharam falas.
Militantes das Cozinhas Comunitárias da Rede, bem como das organizações proponentes e apoiadoras, foram tomados de alegria no momento de entrega dos certificados. A certificação encerrou o Projeto que durou três meses e contou, entre outras etapas, com a realização de dois seminários de planejamento participativo, duas oficinas de formação de lideranças em temas como raça, gênero e agroecologia e um evento público no Grande Bom Jardim que discutiu agroecologia e lutas populares na América Latina.
Uma caravana para visitar seis cozinhas também fez parte da programação do Projeto e contou com a participação de parlamentares, gestores e técnicos governamentais e representantes do Ministério Público Estadual. Por fim, a culminância ressaltou a articulação entre a Unilab e Rede de Cozinhas Comunitárias do Grande Bom Jardim ao destacar como tema “Construindo lutas, saberes e sabores”.
No evento de quarta foi proposta e aprovada, ainda, uma Moção de Apoio e Solidariedade a discentes da Unilab, tanto no Ceará quanto na Bahia, considerando de forma particular a situação de insegurança alimentar e nutricional vivenciada atualmente pelos estudantes no campus dos Malês, localizado no município baiano de São Francisco do Conde. A RCCGB se colocou à disposição para dialogar com entidades e organizações estudantis da comunidade acadêmica e desenvolver ações conjuntas.
Incidência política
Na visão da coordenadora executiva do CDVHS, Lúcia Albuquerque, o momento foi importante para apoiar a Rede de Cozinhas Comunitárias na continuidade da missão de impulsionar ações de pressão e incidência política. “A ideia era que essa Rede de Cozinhas produzisse um planejamento das suas ações e instâncias para poder se fortalecer internamente e assim poder dialogar com os poderes públicos que têm que responder pela política de segurança alimentar, com parlamentares, com a sociedade civil e a iniciativa privada, em busca de soluções para a questão da fome”, explicou.
No mesmo sentido, o coordenador do Projeto e do Diálogos Urbanos Unilab, professor Eduardo Machado, avaliou de forma positiva a articulação com o CDVHS e outras entidades. “Porque gera conhecimento científico, permite a aplicação de metodologias, a interlocução entre conhecimentos científicos e populares e promove uma dinâmica educacional muito significativa para agentes populares dos territórios e da universidade”, enfatizou. Segundo ele, os dados gerados sobre insegurança alimentar e as cozinhas comunitárias no GBJ fundamentaram demandas e recomendações que já impactaram de forma concreta as políticas públicas elaboradas no estado do Ceará e no município de Fortaleza.
A presidente da Associação de Moradores da Comunidade do Marrocos, Zélia Tabosa, destacou que o Projeto incentivou quem já estava na atuação solidária. “Ficou todo mundo animado, sempre fazendo as coisas na linha de trabalho com alimento. As meninas que trabalham na cozinha ficaram mais orientadas, por dentro de alguns assuntos. Foi uma capacitação para trabalhar melhor”, explica. Assim como outras cozinhas, a do Marrocos intensificou sua atuação em meio à pandemia da Covid-19. “Estamos numa área muito vulnerável do bairro e [durante a pandemia] foi um rebuliço muito grande, muita gente passando necessidade, perdendo emprego e familiares”, relatou.
O surgimento da Rede
A criação da Rede de Cozinhas Comunitárias partiu do processo de elaboração do Mapa Participativo de Enfrentamento à Fome do Grande Bom Jardim, ressaltou a coordenadora do CDVHS. “Nós estamos falando de uma população [nos cinco bairros que compõem o GBJ] de 215 mil habitantes, então é um projeto para fortalecer as experiências dessa Rede, que é muito nova e que nasce da experiência da Rede DLIS [Rede de Desenvolvimento Local, Integrado e Sustentável do Grande Bom Jardim]”, complementou. A proposta contou ainda com fomento da Coordenadoria Ecumênica de Serviço (CESE) e apoio de Misereor.
Segundo o levantamento, lançado em 2022 também por ação do CDVHS em parceria com o Diálogos Urbanos Unilab e o Núcleo de Pesquisa e Extensão em Geografia da Alimentação (Nupega/UFC), a Rede alcança mais de 5,3 mil famílias, quase 14 mil pessoas e produz cerca de 187,6 mil refeições por ano. “São grupos que diante da pandemia, desde 2020, se organizam para produzir solidariedade para chegar até essas pessoas mais necessitadas. Essas iniciativas chegam a 62 pontos aqui dentro Grande Bom Jardim”, explicou Lúcia. Atualmente, a RCCGBJ é composta por 24 cozinhas comunitárias de diferentes perfis, viabilizadas por associações, grupo de mulheres e organizações religiosas de diferentes matrizes.
EQUIPE DO PROJETO
Coordenação Geral:
Eduardo Machado, docente do Instituto de Humanidades da Unilab, nos cursos de Bacharelado em Humanidades e de Sociologia, e colaborador do Programa de Pós-Graduação em Sociologia (PPGS) da Universidade Estadual do Ceará (UECE)
Coordenação Executiva:
Adriano Almeida, sociólogo, mestre em Linguística e associado ao CDVHS
Comunicação:
Apoio jornalístico: Jornalista Raíssa Veloso
Redes sociais: Marketeiro Gabriel Sousa
Bolsistas do Diálogos Unilab
Geyse Anne, discente de Pedagogia
Climério Anacé, discente do Bacharelado em Humanidades
Moisés Tavares, discente de Pedagogia
Leopoldo Gonçalves, discente de Pedagogia (participou do primeiro mês do Projeto)
APOIO NUPEGA
Iara Rafaela Gomes, coordenadora do Núcleo e professora e pesquisadora do curso de Geografia/UFC
Francisco Pinheiro Costa Júnior, estudante de Geografia
Antônio do Val, estudante de Geografia
Luana Araújo, estudante de Geografia
APOIO TÉCNICO
Rogério Costa, assessor de Direito à Cidade e associado ao CDVHS
Antônio José Cunha da Silva, apoio administrativo CDVHS
Texto: Raissa Veloso.