O Centro de Defesa da Vida Herbert de Souza (CDVHS) lançou na manhã da última segunda-
feira (24) cartilha intitulada “Na escola a gente conversa sobre o quê?”, desenvolvida junto a estudantes da rede pública do Grande Bom Jardim (GBJ) para incentivar o protagonismo juvenil nesses espaços.
A atividade foi realizada na sede da organização e contou com a presença de estudantes do Ensino Médio que participaram da produção do material, além de pesquisadores, ativistas dos territórios inseridos no GBJ e representante do Instituto Unibanco.
Sobre a Construção da Cartilha
O principal objetivo para elaboração da cartilha era inserir os alunos no processo de proposição de melhorias para as unidades escolares a partir da discussão do Projeto Político Pedagógico (PPP) de cada uma delas. Ao todo foram realizadas, entre os meses de junho e agosto do ano passado, seis oficinas em escolas diferentes do Grande Bom Jardim, reunindo ao todo 123 jovens. “Nesse momento, nós estávamos abrindo espaço para que os estudantes dissessem, a partir do PPP, como era a escola que eles queriam”, relata o psicólogo e colaborador do CDVHS, Jean Borges. Segundo ele, que mediou as oficinas junto à poeta e integrante dos Jovens Agentes de Paz (JAP), Raquel Vieira, a publicação é o resultado desse processo colaborativo com a participação ativa dos alunos nas discussões e proposições.
“É um material que foi construído basicamente pelos estudantes com o nosso auxílio. E isso diz muito sobre o protagonismo deles, que a gente escutou muito nas oficinas, não era um protagonismo levado em consideração. Eles se sentiam participantes, mas não acolhidos pela escola para exercer essa participação”, avalia Jean.
Para Ingrid Rabelo, assessora de juventudes do CDVHS, a necessidade de cumprimento de metas de desempenho avaliativo faz com que as gestões nem sempre consigam se atentar para outros aspectos que garantem a integralidade do processo de ensino-aprendizagem. Por isso, é importante que as comunidades escolares tenham acesso ao que foi sugerido pelos jovens: entre as mais de 150 propostas reunidas durante as oficinas, estão demandas como a realização de mais momentos culturais, aulas de campo e rodas de conversa, além de pautar debates sobre saúde mental e redes sociais.
O material é composto por desenhos dos próprios estudantes, elaborados durante facilitação do ilustrador Elinaldo Barbosa, ex-aluno de uma das escolas inseridas no projeto. “Os jovens conseguiram identificar as criações deles [na cartilha] e ficaram mostrando os personagens com as características que eles/ elas se identificam. Vimos o orgulho deles/as em perceber que as suas produções foram valorizadas, porque muitas vezes elas passam despercebidas”, observa Ingrid. De forma sintética e lúdica, a publicação evidencia como a valorização do protagonismo juvenil pode contribuir para o melhor entendimento entre gestão e comunidade e para a definição de mudanças no espaço de ensino. “A cartilha é para instigar os jovens em uma linguagem mais paritária a participar do PPP das escolas
O objetivo é que outras escolas percebam a importância dos jovens na construção do seu Projeto Político Pedagógico”, considera Ingrid.
O material está inserido no esforço de consolidação e fortalecimento da comunidade escolar capitaneado pelo CDVHS junto às escolas públicas de Ensino Médio da região, que conta desde 2021 com a cooperação técnica e financeira do Instituto Unibanco, organização do terceiro setor que trabalha com a melhoria da educação pública e da gestão escolar.
“Eles estão com a gente nesse processo de fortalecimento institucional e optaram por alocar o recurso no lançamento desse material e na realização da pesquisa a fim de compreender de que maneira a violência urbana impacta no desenvolvimento psicossocial, socioemocional e pedagógico das juventudes. Tem sido um projeto gratificante e os resultados tem mostrado avanços nos objetivos que foram estabelecidos”, avalia Kenny Bastos, analista de articulação do Instituto presente no lançamento.
Sobre a publicação, ele observa que lança luz a um tema muito importante que muitas vezes passa despercebido na dinâmica dos espaços de ensino. “A cartilha cumpre esse papel necessário que é de desengavetar o PPP, fazer com que os jovens se apropriem desse instrumento e a partir daí colaborem com sua compreensão e sua prática, que é o mais importante”, observa. “Esse tem que ser um instrumento vivo na escola para que os alunos o utilizem como realmente um manual daquilo que a escola deseja fazer e coloca como função social”, conclui.
O CDVHS pretende dar continuidade à iniciativa levando a cartilha “Na escola a gente conversa sobre o quê?”, no segundo semestre deste ano, a outras seis instituições de Ensino Médio do GBJ. O intuito é compartilhar o material com todas as unidades e entidades que compõem o Fórum de Escolas do Grande Bom Jardim, uma articulação com mais de 10 anos de existência integrada por 12 escolas públicas estaduais, Vice-Governadoria do Estado, universidades, coletivos juvenis e organizações sociais inseridas nos territórios da região. Além disso, a versão em pdf da publicação pode ser baixada de forma gratuita clicando neste link. https://drive.google.com/file/d/1Ib0MEQMsV9W6pIG1zY6dNz0AL8iASbHb/view?usp=sharing