Por Ingrid Rabelo e Adriano Almeida
Na quarta-feira (09) as instâncias Fórum de Escolas do Grande Bom Jardim e a Rede de Proteção Grande Bom Jardim, de forma conjunta, iniciaram a execução da programação do Workshop em Segurança e Análise de Risco. O evento teve o caráter de oficina e será executado em dois momentos presencias. Ele também marca o início da agenda de trabalho de 2022. Além da realização da oficina, o evento também tem como objetivo definir e pactuar a periodicidade das agendas de trabalho anual.
O Workshop acontecerá em dois dias de oficinas. Ele será realizado na modalidade presencial. Cada encontro acontecerá em uma das doze escolas integrantes do Fórum de Escolas do GBJ. No primeiro dia de oficina contou com a participação de 14 pessoas, estando presentes representantes do Comitê de Prevenção e Combate à Violência- ALECE, do Centro de Defesa da Vida Herbert de Souza, Vice-governadoria, Comitê Popular de Enfrentamento à Covid-19, da Associação de Moradores do Bairro Bom Jardim – AMBJ Unidas, da EEM Santo Amaro, da EEMTI Jociê Caminha, da EEFM São Francisco de Assis Bom Jardim e da EEMTI Senador Osires Pontes, EEM Júlia Alves Pessoa, e do Grupo Jovens Agentes de Paz, Coletivo NATEIA. A programação do Workshop segue na próxima semana.
Neste primeiro dia de oficina, a programação trouxe um informe sobre o movimento cearense AOCA – Articulação de Apoio à Orfandade de Crianças e Adolescentes pela Covid-19 (AOCA). Por meio de vídeo, a Professora Ângela Pinheira, do Núcleo Cearense de Estudos e Pesquisa sobre a Criança NUCEPEC/UFC, sensibilizou e convidou gestores/as escolares a somar esforços para a regulamentação de políticas públicas de assistência às crianças e adolescentes órfãs pela Covid-19, que se estima estar no torno de 8 a 10 mil no Estado do Ceará.
Após a socialização dos informes, Ingrid Rabelo, assessora de juventudes do CDVHS conduziu a dinâmica: Nenhuma a Menos e Nenhum Direito a Menos: Em alusão ao dia internacional das mulheres. Na sequência, Fran Santos assessora do Comitê de Prevenção à Violência, apresentou uma contextualização do cenário da violência em Fortaleza, com destaque para as comunidades periféricas.
Após a contextualização, gestorxs apresentaram os desafios do retorno às aulas presenciais e relataram a imensa dificuldade de não ter uma política intersetorializada para atender às demandas sociais e econômicas apresentadas pelos estudantes e suas famílias às unidades escolares. A pandemia agravou sobremaneira a situação territorial, que já era de extrema vulnerabilidade antes.
Foram os encaminhamentos definidos neste primeiro dia de oficina:
- a) o Fórum de Escolas GBJ e a Rede DLIS subscreveram ofício emitido pelo movimento AOCA solicitando audiência com o governador do Estado do ceará sobre a pauta da orfandade;
- b) As técnicas do Ceará pacífico/Vice Governadoria assumiram compromisso de mediação de audiência junto à vice-governadora sobre as pautas da política intersetorializada de enfrentamento às vulnerabilidades nas comunidades escolares e orfandade;
- c) enviar ofícios para as secretarias de educação, saúde e secretaria municipal de direitos humanos e desenvolvimento social e secretaria municipal de desenvolvimento econômico;
- d) grupo decidiu tanto a data e local para a realização do segundo dia de oficina como a periodicidade das reuniões conjuntas do Fórum de Escolas GBJ e Rede de Proteção GBJ.
Estas acontecerão nas primeiras quintas-feiras de cada mês.
As instâncias
O Fórum de Escolas do Grande Bom Jardim é uma instância criada em 2012 com o objetivo de discutir estratégias de enfrentamento à violência no contexto intra e extra escolar. O Fórum é composto por gestores/as das escolas públicas estaduais locais, representantes do comitê de prevenção à violência da assembleia legislativa, representantes dos laboratórios da Universidade Federal do Ceará, VIESES e LAPSUS, do Centro Cultural Bom Jardim, da vice-governadoria e de lideranças e coletivos que atuam no território. O grupo se reúne periodicamente para análise de cenários, compartilhamento de informações e planejamento estratégico de atuação conjunta.
A Rede de Proteção Grande Bom Jardim é uma instância constituída em 2021 pelo Comitê Popular de Enfrentamento á Covid-19 no Grande Bom Jardim e demais Periferias de Fortaleza. A instância reúne gestores da saúde, da justiça, da assistência social, da educação e da cultura para discutir e viabilizar ações intersetoriais no território no contexto pandêmico e sindêmico, tais como cadastramento vacinal e cobertura vacinal, retorno seguro às escolas e política intergrada de proteção integral às famílias com crianças e adolescentes órfãos pela Covid-19.
Participam desta instância: Secretaria de Direitos Humanos e Desenvolvimento Social, com representação do CRAS Bom Jardim, CRAS Canindezinho, CRAS Granja Portugal, e CREAS Conjunto Ceará; Distrito V da Secretaria Municipal da Educação (SME); Coordenadoria Regional V da Saúde (CORES V/SMS); Núcleo de Articulação Técnica Especializada do Centro Cultural Grande Bom Jardim (NArTE/CCBJ/SECULT); 78ª Promotoria da Criança e da Juventude (MPCE); Projeto Vivo Cidadania (CDVHS); SEFOR 3/SEDUC.
Território
O território Grande Bom Jardim (GBJ) é formado por 5 bairros oficiais da cidade e ocupado por uma população estimada de 225.210 habitantes, que representa quase 10% da população da cidade, segundo Secretaria Municipal de Saúde (SMS), e todos estão entre os doze piores Índices de Desenvolvimento Humano Bairro da cidade de Fortaleza. IDH Bom Jardim (0,194), Canindezinho (0,136), Granja Lisboa (0,169), Granja Portugal (0,19), Siqueira (0,148).
O GBJ acumula 754 vidas perdidas pela Covid-19 desde o início da pandemia, segundo dados do boletim da 9ª semana epidemiológica, da Célula de Vigilância Epidemiológica (SMS). Somente em 2022 foram registrados 47 óbitos. Em 2020: 336, e em 2021: 371. Os novos óbitos foram registrados: Bom Jardim (01), Granja Portugal (01), Siqueira (02).
O território acumula 15.974 casos conhecidos. A taxa de letalidade de 4,7, que é, aproximadamente, 53% maior que a da cidade, que tem 3,1, e a taxa de mortalidade GBJ está em 336,8, por 100 mil habitantes.
No geral, estes são os números de óbitos acumulados por bairro: Bom Jardim (157), Canindezinho (122), Granja Lisboa (209), Granja Portugal (166), Siqueira (100).
O bairro Granja Lisboa, com 209 óbitos, situa entre os 10 bairros com os maiores números de óbitos pela doença em Fortaleza. O bairro tem uma população de 57.373 habitantes, uma taxa de letalidade de 7,5 (cerca de 150% maior que a da cidade) e uma taxa de mortalidade de 364,3 por 100 mil habitantes.
A epidemia da violência também afeta de forma severa o território do Grande Bom Jardim, de acordo com o monitoramento realizado pelo CDVHS em 2021, com informações disponibilizadas pelo CIOPS ( Centro Integrado de Operações em Segurança) , o território teve de janeiro a maio de 2020 79 homicídios. Esse monitoramento já soma 918 homicídios de 2015 a maio de 2020 acontecidos nos bairros do Grande Bom Jardim.Essas altas taxas evidencia a urgência da efetivação de políticas públicas de enfrentamento à violência sobretudo para adolescentes e jovens, as principais vítimas dessa epidemia.
Poema recitado por Fran Santos
TEM GENTE MORRENDO, ANA
À Ana Montenegro
Tem gente morrendo
No seco Nordeste
Tem gente morrendo
Nas secas estradas
Tem gente morrendo
de fome e de sede
Tem gente morrendo
Ana
Tem gente morrendo
Tem gente morrendo
Nos campos de guerra
Tem gente morrendo
Nos campos de paz
Tem gente morrendo
De escravidão
Tem gente morrendo
Ana
Tem gente morrendo
Tem gente morrendo
De angústia e de medo
Tem gente morrendo
De falta de amor
Tem gente morrendo
De ódio e de dor
Tem gente morrendo
Ana
Tem gente morrendo
Tem gente morrendo
Nas prisões infectas
Tem gente morrendo
Porque quer trabalho
Tem gente morrendo
Pedindo justiça
Tem gente morrendo
Ana
Tem gente morrendo…
Sim Ana
Tem gente morrendo..
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(*)Solano Trindade, O POETA DO POVO, pág. 109, Cantos e Prantos Editora, São Paulo, 1999
Fotos de Gabriel Felício