ALUNOS DA ESCOLA POPULAR DE EDUCAÇÃO EM DIREITOS HUMANOS/CDVHS VISITAM QUILOMBO DE ALTO ALEGRE EM HORIZONTE

No dia 30 de setembro, ocorreu a aula de campo do segundo módulo “Democracia e políticas de ações afirmativas: uma abordagem interdisciplinar” do curso “Racismo Estrutural e Democracia: a busca pela superação do racismo na escola” no Quilombo Alto Alegre, em Horizonte – Ceará. Este curso é fruto de uma parceria entre o Centro de Defesa da Vida Herbert de Souza (CDVHS), o Instituto Negra do Ceará (Inegra) e o Grupo Diálogos de Extensão e Pesquisas Interdisciplinares (Unilab) com apoio de Misereor. 

O objetivo principal deste curso, oferecido pela Escola Popular de Educação em Direitos Humanos(EPEDH), é promover estudos e reflexões teórico-práticas sobre a democracia e o racismo estrutural no Brasil, com viés crítico-dialógico, promovendo a incorporação dessas temáticas ao cotidiano curricular e pedagógico-didático em escolas públicas no território do Grande Bom Jardim. 

Nossa chegada ao quilombo contou com 29 pessoas, entre cursistas e militantes que atuam nas organizações filiadas a Rede Dlis e fomos recepcionadas por Tatiana Ramalho, egressa do curso de Pedagogia da UNILAB e Cícero Luiz, presidente da Associação dos Remanescentes de Quilombo de Alto Alegre e Adjacências, em uma encantadora casa de taipa. Apesar de não haver mais pessoas habitando esse tipo de residência no quilombo, a casa foi construída com o propósito de se tornar o Memorial Tio Nem. 

Esse memorial representa uma conexão com o passado recente do quilombo, afeto com esses antepassados e resistência para enfrentar as mazelas que o racismo traz todos os dias, a lembrança desse afeto, passa por uma casa de taipa. O memorial foi pensado e projetado para preservar a história e permitir que as crianças do quilombo tenham a oportunidade de vivenciar um pouco da vida no quilombo tempos atrás, por meio do memorial do Tio Nem.

Nesse diálogos, a Tatiana Ramalho apresentou o projeto Cazuzinha que foi pensado e produzido por ela e que traz esse nome em homenagem a Negro Cazuza, africano fundador do quilombo junto com a indigena Isabel Cristina, mais conhecida como Negrinha do Buriti.

Foto: Rachel Vieira

Esse personagem veio para dialogar com as crianças da comunidade sobre a história de pertencimento ao quilombo e também as histórias dos mais velhos. Toda essa dinâmica torna nítida a importância do pertencimento da identidade quilombola, trabalhando com crianças de 04 a 12 anos, o projeto adota uma linguagem infantil, que Tatiana considera crucial.  Segundo ela, a capacidade de gostar ou não de algo muitas vezes tem suas raízes no julgamento prévio da sociedade. Ao fornecer bases sólidas, as crianças do quilombo estarão mais fortalecidas em suas raízes e muito mais potentes. Esses ensinamentos irão equipar as crianças do quilombo com habilidades que elas levarão consigo ao longo de suas vidas. Tatiana compartilha que não teve esse apoio emocional na infância e deseja resgatar essa experiência para as próximas gerações de filhos e filhas do quilombo de Alto Alegre. 

Após escutar as histórias e narrativas do Quilombo de Alto Alegre dentro do Memorial Tio Nem, fomos conhecer o prédio da Associação dos Remanescentes de Quilombo de Alto Alegre e Adjacências que é mantido pelos projetos e pela própria comunidade. Nesse espaço, a comunidade tem a oportunidade de fazer curso de informática, corte e costura, reforço escolar e dança, além disso tem grupos de maculelê e capoeira.

O encerramento aconteceu no Memorial Quilombola, situado na entrada da comunidade com a explicação da Jeisy Lanne, liderança quilombola, sobre a organização territorial do quilombo. Entre as histórias, ficou nítido que há um reconhecimento da luta da comunidade quilombola, que desempenhou um papel fundamental para os avanços e melhorias do local. Através desse intercâmbio, juntamente com professores das escolas públicas presentes no território do Grande Bom Jardim, foi possível compreender a potente contribuição dos saberes quilombolas para o processo de formação e desenvolvimento educacional. Isso se constrói a partir de uma perspectiva étnico, político e cultural, dessa forma acreditando que os caminhos para construção de espaços de promoção de uma educação antirracista, partem de estratégias e práticas pedagógicas que proporcionem a valorização de outras narrativas.

*Texto de Geyse Anne e Cassiane Nascimento

Foto: Rachel Vieira